Por Odemirton Filho

Tem dias que a gente olha para trás e enxerga quão longo foi o caminho percorrido. Tanta coisa vivida. Foi tudo tão rápido.

Lembramos das brincadeiras com os amigos de infância, do colégio e das farras da juventude. Tínhamos planos, mas poucos foram concretizados. As dificuldades da vida nos levaram por caminhos nem sempre traçados.

Passamos boa parte da vida numa correria medonha contra o tempo.

Essa pandemia deixará alguma lição? Sinceramente, não creio, a humanidade continuará como sempre foi.

Quer um exemplo? Alguns passam boa parte da vida em busca de construir patrimônio. Porém, esquecem que ao morrer os bens são deixados deixados para os filhos disputarem a herança. O processo de inventário se arrastará por vários anos, repleto de ressentimentos. Há aqueles que chegam a brigar pela louça e talheres. Nesses vinte anos convivendo no meio jurídico já vi muita coisa. É triste.

Observamos o relógio há todo instante, numa vã tentativa de colocar rédeas no tempo. “O tempo corre, o tempo é curto: preciso me apressar; mas ao mesmo tempo viver como se essa vida fosse eterna”, poetizou Clarisse Lispector.

Sim, o danado do tempo escapa de nossas mãos.

Não podemos viver no passado, no máximo lembrar os bons momentos, tentando esquecer aquilo que nos fez mal.

Certa vez, assisti uma série de tv sobre Juscelino Kubitschek. Na cena, JK estava sozinho, em casa. Lembrava dos pais, da irmã e dos amigos. Chorava. Estava em profunda solidão. Tudo passa, até a ilusão do poder.

Pois é. Não podemos fugir do tempo.

Como diria Mário Quintana: ” nós somos escravos do tempo. Só os poetas, os amantes e os bêbados podem fugir, por alguns instantes.

Ah, e as crianças. As crianças, simplesmente, o ignoram”.

Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de justiça.

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