O filme “Perfume – A história de um assassino” conta a história de uma aprendiz de perfumista, que tem um olfato único e uma obsessão: o perfume perfeito.

Ele chega à conclusão de que apenas conseguiria o objetivo com a preservação do cheiro feminino, impossível pelos métodos convencionais, tornando-se, a partir daí, um assassino em série.

Como fruto do seu talento inato e, em igual patamar de importância, da sua obsessão, ele cria o perfume perfeito, que inebria todos ao redor, fazendo com que percam completamente o senso, as convicções morais e religiosas.

Apenas pelo aroma, ele modifica a realidade e a percepção das pessoas sobre ela.

A paixão do protagonista é oposta à postura de Marco Aurélio, filósofo estoico cujas meditações iniciei a leitura.

Nas meditações, ele agradece por não ter se aprofundado no estudo da arte (retórica e poesia – Meditações 1,7), o que atrapalharia a sua busca pela serenidade, bem representada pela conduta de Máximo, que “nunca mostrava pressa, nunca adiava; nunca se sentia perdido”, e que ” não se superiorizava a ninguém, e contudo ninguém se atrevia a desafiar a sua superioridade” (Meditações 1,15).

Assim como o protagonista do filme (embora eu evidentemente não seja um psicopata), tenho uma obsessão: construir um discurso político perfeito, que sirva como retrato de uma liderança política genuína, independente de quem seja.

Acredito que o discurso político perfeito só se consegue com uma paixão pela política incompatível com a “serenidade do estoicismo”.

Mas acredito também que a liderança genuína, que seria retrato do discurso perfeito, só seria possível com a serenidade, humildade e desprendimento dos estoicos.

Eis o contexto, a obsessão e o dilema: é possível construir algo assim com base em duas posturas aparentemente incompatíveis?

Não sei.

Mas estou decidido a descobrir.

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