Por @silverioalvesfilho

O amigo Magno Bruno me enviou uma foto de um pôr do sol imponente em São Paulo do Potengi.

Para além da beleza, a imagem me fez recordar da minha disciplina favorita no curso de direito, que nem era sobre direito: hermenêutica filosófica.

A hermenêutica estuda técnicas de interpretação que, no caso do meu curso, era a jurídica.

Já na hermenêutica filosófica, especificamente, a análise é anterior a isso: não se estuda como se interpretar, mas sim o que é interpretar.

Eu gostava da visão de Gadamer, segundo a qual, no processo de compreensão, somos sempre influenciados pelo nosso “horizonte hermenêutico”: nosso passado, religião, formação intelectual, época histórica em que vivemos etc.

Para ele, não é possível ter uma compreensão/interpretação totalmente pura ou imparcial, pois sempre estaremos, de algum modo, ligados ao nosso “horizonte hermenêutico”.

É na nossa existência que “horizonte hermenêutico” se molda e constantemente se modifica, fazendo com que, muitas vezes, possamos ter para um mesmo texto uma interpretação diferente da que tínhamos antes.

Assim, enquanto existirmos, estamos fadados a “compreender” o que está ao nosso redor, sendo a vida uma espécie de caminho de compreensão que só se encerra com a morte.

A cada vez que estamos diante do pôr do sol, tanto ele como nós somos diferentes da vez anterior, e continuaremos a ser diferentes nas vezes posteriores, até a morte, fato inevitável que acabará com o “caminho da compreensão” (ou apenas o modificará, a depender da crença). A morte, que é inevitável como o pôr do sol, apenas mais imprevisível.

Aí é onde entra o Pink Floyd, que em apenas uma estrofe da música “Time” sintetiza o conteúdo deste artigo:

“E você corre e corre para alcançar o Sol

Mas ele está se pondo

Ele está dando a volta até surgir atrás de você novamente

O Sol é o mesmo, de uma forma relativa

Mas você está mais velho

Com menos fôlego

E um dia mais próximo da morte”

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