Por Santo Tito, funcionário aposentado do Banco do Brasil
Mineradora recebe LP (Licença Prévia) para explorar minério de ferro no RN
Profecia: “Estamos trabalhando para trazer água até São Paulo do Potengi, mas haverá um momento em que teremos de lutar para que não a levem”. Monsenhor Expedito.
A Barragem Campo Grande, com capacidade para armazenar 34 milhões de metros cúbicos de água, foi inaugurada em 20 de fevereiro de 1986, pelo governador José Agripino Maia e pelo prefeito Geraldo Macêdo Costa. É uma das principais atrações turísticas da cidade, pois contém águas calmas, tem às suas margens balneários, ponto de parada obrigatório para quem a visita. Com as fortes chuvas em abril de 1984, mesmo sem que houvesse a conclusão definitiva da obra, ocorreu a primeira sangria em 11 de abril. Na época, o sistema de abastecimento de São Paulo do Potengi recebeu um investimento de Cr$ 560 milhões de cruzeiros.
Histórico de “Sangrias”: 11 de abril de 1984 (quarta-feira); 11 de janeiro de 2004 (domingo); 25 de março de 2008 (terça-feira); 13 de março de 2009 (sexta-feira); 24 de janeiro de 2011 (segunda-feira); 27 de abril de 2011 (quarta-feira); 12 de março de 2024 (terça-feira); 14 de junho de 2024 (sexta-feira).
Essa maravilha que o homem criou, utilizando-se da logística, dos recursos econômicos, da técnica, dos técnicos e de sua visão futurista sobre os elementos que a própria natureza disponibilizou aos seres humanos, a fim de que possam desenvolver um estilo de vida adequado com suas necessidades, pode estar prestes a trazer dissabores.
A Fomento do Brasil Mineração recebeu a licença prévia (LP) do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) do Rio Grande do Norte para pesquisas de minério de ferro de alta qualidade na zona rural dos municípios de Lagoa de Velhos, Serra Caiada, Senador Elói de Souza e Sítio Novo. O documento tem validade de cinco anos. A empresa prevê aporte total de mais de R$ 1,2 bilhão para desenvolver o projeto Ferro Potiguar.
Como fomento para o desenvolvimento regional a noticia é auspiciosa, porém quanto à sustentabilidade do meio ambiente e futuro econômico é algo que ainda não foi esclarecido com todas as letras para a população de São Paulo do Potengi, cidade mais afetada negativamente pela implantação do projeto.
A prospecção geológica é um processo vital na exploração de recursos minerais e naturais. Envolve uma série de técnicas e métodos para identificar e avaliar locais com potencial para a extração de minerais, seja para uso na construção civil, como areia e argila, ou para a obtenção de metais preciosos. Este processo começa com a pesquisa bibliográfica e pode incluir sondagens mecânicas, ensaios in situ (classificação de acordo com o tipo de avaliação de solo pretendida), e prospecção geofísica, utilizando tecnologias avançadas como georadar (tecnologia que usa ondas de radar para mapear o subsolo sem escavações) e resistividade elétrica (medida do quanto de dificuldade a corrente elétrica terá para atravessar um determinado material quando conectado a uma tensão elétrica). A prospecção não só ajuda a definir as características quantitativas de um maciço rochoso, mas também permite otimizar economicamente cada projeto, tornando-se um investimento crucial no campo da mineração e da engenharia geotécnica.
Muito embora os estudos estivessem em andamento desde meados de 2019, somente agora (2024) a população local teve conhecimento superficial do futuro sombrio que espreita o município. Para a viabilidade desse projeto serão necessários o consumo de uma enorme quantidade de litros de água/dia a serem retirados da Barragem Campo Grande. Praticamente um rio perene para lavar o minério.
São Paulo do Potengi saiu de 13 anos sem que houvesse sequer uma sangria. Com a retirada diária de água a partir de 2028, início das operações, o município corre o risco de perder a única fonte de renda que sustenta grande parte de suas famílias. Pois a fábrica que produz essa empregabilidade pode, novamente, fechar suas portas pela falta desse líquido precioso.
Considerando que todos os órgãos reguladores, neles incluindo a anuência do executivo municipal quanto à utilização do manancial hídrico em depósito na Barragem Campo Grande, a única coisa de que se está ciente é que todos os acordos possíveis já estão fechados, assinados e sacramentados.