Por Silvério Alves Filho
Nesta última semana, São Paulo do Potengi recebeu com grande tristeza o falecimento do jovem seminarista Nícolas Mateus, mais uma vítima da Covid-19.
A última conversa que tive com Nícolas, que eu considerava um grande amigo, ocorreu nos dias 30 de junho e 1º de julho, quando ele, no primeiro dia, mandou uma mensagem por whatsapp para elogiar a explicação que eu havia feito no Programa Destaque Político, levado ao ar pela Rádio Potengi AM, sobre a importância dos apóstolos Pedro e Paulo, cuja solenidade havia sido comemorada no dia anterior. No segundo dia, 1º de julho, mandou outra mensagem para agradecer pelo “alô” que eu havia lhe mandado no programa daquele dia, bem como para agradecer pela “matrícula” que meu pai havia lhe arranjado no Colégio São José. Depois disso, não tive mais contato.
Em tom de brincadeira, eu costumava chamá-lo de “Nicolau, o Martelo dos Hereges”, em razão da veemência e amor com que defendia a fé católica que professava. O apelido era uma referência a dois grandes santos católicos: São Nicolau, que combateu a heresia ariana (corrente teológica que negava a divindade de Jesus), e Santo Antônio de Pádua, Doutor da Igreja, o qual, pelos conhecimentos teológicos e pela defesa irrepreensível da Sã Doutrina, ficou conhecido como “martelo dos hereges”.
Num momento de perda de uma pessoa como Nícolas, cuja ausência de maldade no Coração era perceptível para qualquer um que o conhecesse, a tristeza é inevitável. Inevitável também são as perguntas: “Por que logo um jovem tão bom e promissor?”, “Por que um jovem que estava tão decidido a servir a obra de Deus?”, “O que ele fez para merecer ir tão cedo?”. Contudo, é preciso saber que Nícolas, como católico devoto que era, gostaria que olhássemos para o seu falecimento com os olhos da fé, e não sob uma perspectiva meramente material, a qual, inclusive, era bastante combatida por ele nas redes sociais e nos ambientes eclesiásticos.
Sob os olhos da fé da Igreja, que Nicolas amava e defendia, a morte já não é uma inimiga, mas uma amiga, pois o que é semeado só pode ser vivificado se, antes, morrer (I Cor 15,36), assim como o grão de trigo precisa morrer para dar frutos (João 12,24). Por isso São Paulo dizia que, para ele, morrer seria um ganho (Fl 1, 21), pois iria para junto do Senhor (Fl 1, 23).
Com seu sofrimento pelo Covid-19, Nícolas pôde se unir mais à paixão de Cristo, completando em seu corpo o que restava das aflições do Mestre, como ensinou São Paulo em Colossenses 1, 24. Para o que crê, isto não é motivo de tristeza, mas de alegria, pois participou das aflições de Cristo, para depois se alegrar quando Jesus lhe revelar a Sua Glória, conforme ensinou São Pedro em I Pe 4, 13. Carregando de modo efetivo a própria cruz no final de seus dias, Nícolas pôde tornar-se seguidor ainda mais fiel de Jesus (Lc 9,23).
Por tudo isso, a morte de Nícolas, aos olhos da fé, não é um motivo de tristeza, mas de alegria. Alegria por presenciarmos um jovem que aceitou definitivamente o celibato, num mundo onde predominam o hedonismo e o materialismo. Um jovem que tomou decididamente para si a missão de tornar-se um dos “eunucos por amor ao Reino de Deus”, dos quais falou Jesus em Mateus 19, 11-12, ingressando, com sua partida,no seleto grupo dos virgens que, consoante Apocalipse 14, 4, seguem o Cordeiro para onde quer que Ele vá, pois, dentre os homens, foram comprados como primícias para Deus e para o Cordeiro.
Por isso, devemos dar Graças pela vida e pela morte de Nícolas Matheus, pois lutou o bom combate, encerrou a sua breve carreira e guardou a fé, morrendo para poder dar frutos junto ao Nosso Senhor Jesus Cristo, onde a morte, o pecado e a dor não têm poder algum.
A seguir, imagens da minha última conversa com Nícolas, e de uma montagem que eu havia feito para brincar com ele, em referência a Santo Antônio, o Martelo dos Hereges.