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Breve Catequese Católica

Por José Ibiapina


Nesta Sexta-Feira Santa, mais do que nunca, recordamos a mensagem da Cruz de Cristo. Embora esteja presente desde os primórdios da Igreja, a mensagem da cruz hoje encontra-se fora de moda. Pregar a mensagem da Cruz, para alguns, pode ser considerado escândalo ou loucura, como era na época dos apóstolos (I Cor 1,23). Muitos consideram mais viável propor uma mensagem de vitórias e prosperidade: “Ore a Deus, e os teus inimigos serão esmagados” ou “Ore a Deus, e sua vitória chegará”. Tal mensagem é perigosa, pois se pauta, basicamente, em passagens do Antigo Testamento, escritas num contexto em que o então povo de Deus travava batalhas contra nações pagãs. É preciso saber que o Antigo Testamento é apenas sombra do Novo. O Novo Testamento, sim, com a vinda do Filho de Deus, traz a plenitude da Boa-Nova, cumprindo e aperfeiçoando a mensagem da Antiga Aliança. Jesus e, por consequência, o Novo Testamento, é que deve ser a chave interpretativa para o Antigo.

Dito isto, algumas passagens que prometiam a “vitória” no Antigo Testamento perderam um pouco o sentido, uma vez que, na Nova Aliança, o contexto muda: nosso maior inimigo não são as nações pagãs, mas o pecado, que pode nos privar da Salvação. Nossa maior benção não são as vitórias materiais, mas a vitória já conquistada por Cristo contra a morte. 

É preciso saber que Jesus não nos prometeu conquistas físicas ou materiais; ao contrário, nos alertou que no mundo teríamos aflições (Jo 16,36). É preciso saber que ele nos ama, e tal amor é representado em sua plenitude na Cruz de Cristo, que nos permite a salvação. Ele nos ama, e por isso nos alerta que as vitórias e as bençãos espirituais são maiores do que as bençãos físicas ou materiais. Prova disso é que quase todos os apóstolos foram torturados e mortos violentamente, o que evidentemente teve a permissão divina. Quem ousaria dizer que, mesmo assim, eles não eram abençoados e queridos por Deus?

Com efeito, não há amor maior do que dar a vida por outra pessoa (Jo 15:13) e, pela própria morte, permitir a salvação a um pecador que não a merece. Por isso, se Deus não te der nada; se permitir que você sofra; se permitir que aqui na vida terrena você seja esbofeteado por um mensageiro de Satanás, como o foi São Paulo (2 Cor 12-07)… Ainda assim você poderá ter tudo, pela fé e pela graça. Pois a Graça Dele te basta, e o maior livramento ele já te deu: a possibilidade de salvar-se. E esta salvação não vem senão por Cristo. 

Nesse sentido, Jesus nos informa que se não estivermos dispostos a carregar também uma cruz (Mc 8, 34-36) não poderemos segui-lo. Assim, não há como ser cristão se não se está disposto a sofrer e transformar esse sofrimento em conversão sua e daqueles com os quais convive. Por vezes, o sofrimento liberta e o gozo aprisiona. Pois é no gozo e nas “bençãos materiais” que somos tentados a nos considerar auto-suficientes, ou especiais, quando, em verdade, não somos senão miseráveis que nem respiraríamos se Deus não permitisse. E é neste momento, no qual reconhecemos nossa incapacidade em relação a nossa existência, que Deus mais fortemente pode habitar em nós. Assim diz o santo apóstolo: “Mas ele me disse: Basta-te minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força. Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo.” II Coríntios, 12,9

Um cristianismo que não prega a necessidade da cruz não é um cristianismo autêntico, mas pseudocristianismo. Em verdade, somos chamados a fazer como São Paulo, e completar em nosso corpo o que resta das aflições de Cristo, sacrificando-se em favor do Corpo Dele, que é a Igreja (Col 1,24).

Por isso, diante do sofrimento, um verdadeiro cristão não deve fugir ou amedrontar-se . Mas enfrentá-lo, com temor e obediência a Deus, orando como o Senhor orou, no momento de grande agonia que o fez SUAR SANGUE (Lc 22,44): “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; CONTUDO, NÃO SEJA COMO EU QUERO, MAS SIM COMO TU QUERES”. (Lc 22,42)

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