A ilusão do novo: uma miragem no deserto

Silvério Filho

Rotineiramente, quando nos aproximamos dos períodos nos quais se realizam eleições políticas, há o retorno do “discurso do novo”. 

O discurso do novo é aquele que prega que “já tá na hora de mudar”, que “tá na hora de colocar cara nova na política”, de “oxigenar as instituições”. 

Os profetas deste discurso, geralmente, criticam um suposto “jeito velho de se se fazer política”, não sendo incomum, inclusive, que atribuam este “jeito velho” aos políticos mais experientes, enquanto os que chegam agora estariam fadados a inovar, a modificar.

Ocorre, porém, que, na maioria das vezes, o discurso do novo repousa sobre uma ilusão: a ilusão de que, retirando o antigo, o que virá será necessariamente melhor; bastaria “inovar o que está aí”, para que as coisas, quase num passe de mágica, se transformassem beneficamente. 

Costumo chamar este comportamento, inocente (para os que acreditam) ou mal-intencionado (para os que não acreditam, mas fingem acreditar), de “ilusão do novo”.

Esta ilusão, rotineira, como já disse acima, ignora que a política e suas consequências vão muito além de uma simples troca de políticos, pessoalmente considerados. Há que se analisar os fatos que servem de contexto para a atuação pessoal dos políticos: como as situações econômica e institucional, nos mais diversos níveis (municipal, estadual e federal). Estes fatos, externos à pessoa do gestor, permanecerão os mesmos, ainda que se coloque um “novo” em seu lugar. 

Aí reside o problema. Não há mágica: o novo pelo novo não é garantia de que as coisas melhorarão. Mais que isso: a história nos mostra, inclusive com exemplos presidenciais, que o novo pelo novo é mais que um posicionamento politicamente inocente: ele é perigoso. 

Assim, o “argumento do novo” de nada vale. Ou se mostra que um candidato, diante dos contextos políticos e institucionais externos, tem condições de transformar verdadeiramente as coisas para algo melhor, ou o “argumento do novo” não passará disso: uma ilusão, de consequências imprevisíveis. 

Diante desta imprevisibilidade, o remédio é evidente: a prudência. 

Já dizia São Pio X: “O amor pelas novidades (por si mesmo consideradas) está por trás de toda sorte de erros”. Ou, adaptando alegação ao dito popular: muito cuidado ao trocar o certo pelo duvidoso.

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