“Ficamos nós padres a refletir: a Igreja tem alguma coisa a dizer, mesmo que nos chamem comunistas, não tem importância. Ou estávamos com medo, ou tínhamos compromisso com a desordem estabelecida. É preciso nos revestirmos nas ENTRANHAS DA MISERICÓRDIA DO NOSSO SENHOR JESUS CRISTO. Não podemos aconselhar a violência, que além de anti-evangélica, Nunca resolveu nada; os oprimidos de hoje podem ser os opressores de amanhã. MAS A DENÚNCIA EVANGÉLICA E A EDUCAÇÃO PARA A CIVILIZAÇÃO DO AMOR, da reconciliação dos homens entre si e com Deus, dão para fazer os degraus do menos bom para o bom, do bom para o ótimo e do ótimo para o santo.
Nunca me desanimei por não ver o resultado do que foi plantado. Eu sei que o crescimento do reino de Deus é misterioso: está entre a graça de Deus e a liberdade humana e não é a mesma coisa que crescimento social ou econômico. Ao padre compete somente fazer o que São Paulo fez: “Eu plantei, Apolo regou, mas que faz crescer é Deus” (1 Co 3,6). Nem mesmo o secularismo e a modernidade me fazem medo: “tenham confiança, eu venci o mundo”, disse Jesus (Jo 16,33). Eu caminho com esta fé: Jesus Cristo é o Senhor da história e o mundo caminha para Deus.
(…)
Uma vez me perguntaram que povo tão falado é esse (que eu defendo e amo). Eu respondi que é o povo das feiras, o povo das procissões e romarias, o povo que enche nossas igrejas, o povo de Deus, o povo que é discriminado por ser pobre, negro ou índio, mas que é possuidor de um potencial espiritual invejável e percebe as coisas de Deus. “Sim, Pai, Vós revelastes essas coisas ao simples e aos humildes”, disse Jesus (MT. 11,25). Sem excluir ninguém, é o povo que eu quero bem, o povo de “mulher séria e homem trabalhador”, que se levanta “no piar dos passarinhos” e vai até o sol se pôr para não faltar o pão de cada dia, sem tirar o pensamento no Pai verdadeiro. O povo cuja cultura aprecio e incentivo: violeiro, embolador de coco, boi de reis, João Redondo, onde o mais fraco sempre sai vitorioso, revelando o DESEJO INCONTIDO DE MUDAR SUA SITUAÇÃO DE MISÉRIA. Povo cuja história só nesses últimos anos está sendo contada, como diz o poeta popular Rafael Arcanjo:
“A história verdadeira
está na boca do pobre.
A contada nas escolas
está mudada”.
Monsenhor Expedito Sobral de Medeiro, em Pelos Caminhos do Potengi, 1989. Livro publicado por ocasião dos seus 50 anos de Sacerdócio.