Breve Catequese
Católica
Por João Damasceno
Publicação original: https://blogsilverioalves.com/2016/11/o-batismo-de-criancas-e-fe-infantil-por.html
As Escrituras tem
na fé o fundamento do Batismo: “Aquele
que CRER e for BATIZADO, será SALVO.1 (Mc 16, 16).”
A fé Infantil
é confirmada por Cristo: “Quem recebe em meu
nome uma CRIANÇA como esta é a Mim que recebe; quem
escandalizar um desses PEQUENINOS que CRÊEM em
mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho e o
lançassem no fundo do mar. (Mt 18. 5 e 6)2 As palavras pequeninos e crêem, foram
traduções derivadas do grego mikrrwn e pisteu, respectivamente.
mikrrwn (μικρός) designa criança em mínima idade,3 microindivíduos de pouca ou
nenhuma autonomia da vontade. Já pisteu4 provém do verbo crer, que
importa em confiar, submeter ou aderir.5 (pistiV, πίστις εως, ἡ).
Crianças professam fé pela adesão
espontânea ao Cristo: “TROUXERAM-LHE TAMBÉM
CRIANCINHAS, para que ele as tocasse. Vendo isto, os discípulos as
repreendiam. Jesus, porém, chamou-as e disse: DEIXAI VIR A MIM AS
CRIANCINHAS E NÃO AS IMPEÇAIS, porque o reino de Deus é daqueles que
se PARECEM com elas. (Lc 18. 15 e 16)”
De certo que
só a Fé Perfeita ou Completa é a Virtude
que permite conhecer e aceitar as Verdades Revelas. No entanto,
convém esclarecer, para que não caiamos no erro dos protestantes,
que FÉ não se confunde com a MERA NOÇÃO INTELECTUAL da Verdade Revelada.
Fé é um DOM, provém de Deus e é infusa no ser para que progrida. Esse Dom
Ele distribuiu aos adultos, tanto quanto as crianças, pois
está Escrito: “é o mesmo DEUS que OPERA TUDO EM TODOS,
(1 Cor 12, 6) de acordo com o GRAU DE FÉ que Deus
lhes DISTRIBUIU. (Rom 12, 3)” Fé é sobrenatural, e
“não provém de vossos méritos, mas É PURO DOM DE DEUS. (Ef 2,
8)”6 Jamais haveríamos
de crer por nossos próprios meios.7 Como Dom Espiritual, é a
capacidade extranatural que todo ser humano recebe, e que lhe permitirá crer em
DEUS.
Fé não pode ser
confundida com a razão ou vontade humana. A simples noção
intelectual sobre Deus e as Verdades Divinas não é Fé,
pois se fosse, os demônios se salvariam. Fé é a
capacidade sobrenatural de aderir a Vontade de Deus, e isto
não vem da razão ou da vontade, corrompidas pelo
pecado.
Crer é o alinhamento
entre criatura e Criador, cuja perfeição do alinho dependerá do progresso da fé
que dará plena Ciência sobre a Vontade de Deus. Nesta capacidade
de adesão, também se inclui a fé incompleta das crianças,
por não ser ainda intelectiva. Essa fé informe ou em formação que nos
é legada na meninice, por sua incompletude, podemos dizer que
está potência, sendo, no entanto, capaz de progredir.8 Diz-se completa, quando
a fé que recebemos no espírito, atinge a razão, alcança
a vontade, e por fim, se materializa nas ações,
preenchendo o indivíduo por inteiro.
A
credulidade potencial que nos é infusa desde a tenra
idade, e sem a qual não creríamos no futuro, necessita
progredir para que na fase do arbítrio e da razão
se possa discernir em quem, e no que crer para que no
progresso da fé se alcance a salvação.
A capacidade de evoluir pela razão
e vontade é o que transforma a potência em ato, tirando
a fé da abstração, situando-a na realidade das ações
concretas.
Explica Agostinho: “tanto
o COMEÇO DA FÉ, quanto o seu PROGRESSO, há de
ser ATRIBUÍDA a ação de DEUS no homem. Deus e o
único autor da fé. Não apenas autoria, mas progresso e preservação cuja progressão
e manutenção nos permite o acesso a salvação em Cristo; primeiro oferecemos
a Deus o começo de nossa fé para receber o acréscimo; a Graça
é creditada ao que crê para que sua fé cresça pelo auxílio
do Senhor, e a fé aumentada seja a recompensa da fé
começada.” (anos 354 à 430, cap. II, Da Justificação
dos Santos)”
Por esta razão, é que
a FÉ INCOMPLETA DAS CRIANÇAS, APERFEIÇOA-SE E SE COMPLETA, NA FÉ DA
IGREJA. Tanto a Fé, quando o pecado, estão no ser
humano como potências,9 sendo o Batismo, a via
que nos retira da condição de
reprovados, herdada pelo pecado do
primeiro homem, inserindo-nos no Corpo de Cristo para nos
tornar partícipes de seu sacrifício, afim de que os pecados
de atos e hábitos possam ser
prevenidos na santidade, e reparados no arrependimento.
Negar a
fé como Dom Divino, e inseri-la no âmbito natural das
noções cognitivas ou
vontades sensíveis, implica reconstruir o erro pelagiano
de nos atribuir nossa própria salvação:10 “Mas por que não ouvir as
palavras do Apóstolo que contrariam esta doutrina? O início da fé, de quem
procede?” (S. Agostinho, Da Justificação, cap. III)”
O potencial da
fé autoriza as
crianças interagir com Cristo: “Nunca lestes estas
palavras: Da boca dos MENINOS E DAS CRIANÇAS DE PEITO11 (θηλάζω) tirastes o
vosso louvor? (Mt 21, 16)”
Ensina
Santo Tomás: “E assim, a FÉ PERFEITA DO BATIZADO NÃO É
NECESSARIAMENTE EXIGIDA PARA RECEBER O BATISMO, como NEM A FÉ PERFEITA DE QUEM
BATIZA[…] pois este não se perfaz pela justiça de quem o
confere, nem do que o recebe, mas pela Virtude de Deus. (Suma
Teológica, Q 68, art. 8º DO SACRAMENTO DO BATISMO)”
O Evangelista
usa o termo pisteu, tanto para identificar a
fé infantil, quanto para identificar a fé apta para o
Batismo. Analisemos: “Aquele que CRER e for BATIZADO será
salvo, (mas aquele que não crê será condenado, (Mc 16, 16).
(PISTEUsaV kai BAPTI sqeiV swqhsetai o de
apisthsaV katakriqhsetai – Mc 16, 16)
Comparemos:12 “quem
escandalizar um desses PEQUENINOS que CRÊEM em
mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho e o
lançassem no fundo do mar; (Mt 18, 6)
(oV d an skandalish
ena twn MIKRWN toutwn twn PISTEUontwn13 eiV eme sumferei autw ina kremasqh
muloV onikoV epi ton trachlon autou kai katapontisqh en tw pelagei thV
qalasshV)
Continua Santo
Tomás: “Embora por razões biológicas não
possam ainda expressar a fé através da
vontade, intelecto e ações, AS VIRTUDES DESSA FÉ JÁ
SE ENCONTRAM NAS CRIANÇAS DE MODO PERFEITO,
sem a desordem do livre arbítrio. Essa impotência no obrar
não existe nas crianças por defeito dos hábitos, MAS
POR PURO IMPEDIMENTO CORPORAL, assim como os adormecidos, embora
tenham o hábito das Virtudes, não lhes podem, contudo expressá-las em
atos, por causa do sono. (Suma Teológica, Q 69, art. 6º do
Batismo)”
O que
falta a fé das crianças, que é o efeito concreto sobre
a vontade e razão, se completa na FÉ DA IGREJA até a
confirmação pessoal do Batismo, no Crisma.14
Isso é possível,
porque formamos um só Corpo, num só Batismo15 em Cristo.
Somos libertos do pecado original no
Batismo, para que regenerados, possamos ordenar nosso
arbítrio à salvação, sem a carga do pecado adâmico
nos obstruindo. Para tanto, é essencial que creiamos, e
tenhamos ainda disposição para aceitar o
efeito sobrenatural do Batismo.
Disse Agostinho:
“os filhos deste mundo geram e são gerados; o homem exterior, PELO
BANHO DA REGENERAÇÃO, É SANTIFICADO e recebe a esperança da incorrupção
futura. (Do Matrimônio e Concupiscência. Cap. 1,18,20).” A FÉ DAS
CRIANÇAS, aliada a FÉ DO CORPO MÍSTICO DE CRISTO que é a Igreja,16 se fundem num
mesmo Elemento Espiritual, tornando-se unas no
Batismo pela Comunhão com o Corpo de Cristo. O
Batismo liga as crianças de modo direto e pleno ao sacrifício da
cruz, do qual também necessitam.
1.
A recíproca é verdadeira: se as criancinhas não tivessem fé apta para o
Batismo, estariam condenada, porque: “ SEM FÉ, É IMPOSSÍVEL AGRADAR A
DEUS. (Hb 11, 6)”
2.
No grego “oV d an skandalish ena twn MIKRWN toutwn twn PISTEU ontwn
eiV eme sumferei autw ina kremasqh muloV onikoV epi ton trachlon autou kai
katapontisqh en tw pelagei thV qalasshV (Mt 18, 6)”
3.
Exemplo: “Conseguiu que todos, pequenos (mikrrwn) e
grandes, ricos e pobres, livres e escravos, tivessem um sinal na mão direita e
na fronte.” (Ap. 13, 16):
Mikrrwn
é uma palavra grega usada para representar faixa etária mínima. http://biblehub.com/greek/3398.htm
4. http://biblehub.com/greek/4100.htm
5. http://biblehub.com/greek/4100.htm
6.
No grego lemos dowron, significa Dom que
é dado livremente em caráter geral. (At 20, 35). (http://biblehub.com/greek/1325.htm).
Difere
do Dom Particular (charisma) que
é individual, dado a cada um em diversas espécies (I Cor 7,
7)
7.
“não há razão para nos gloriarmos, quando nada é nosso, dizia
S. Cipriano de Cartago, (A Quirino, 1,111, c.4)
8.
A teologia usa o termo FÉ INFORME para a fé iniciada, incompleta; e FÉ
INFORMADA para a fé plena e completa.
9.
POTÊNCIA é aquilo que está no sujeito, mas ainda não se manifestou, e
quando se manifestar, é que criar-se-á o ato. A vontade
é um exemplo de potência, que quando se exterioriza no
mundo fático, tem-se o ATO.
10.
A doutrina pelagiana fora proclamada herética, pelo Sínodos de
Cartago (418) e o semipelagianismo, uma versão menos radical da ideia, pelo
Orange (526).
11.
Aqui a palavra usada é thélazó (θηλάζω), que significa recém nascido ou
lactante.http://biblehub.com/greek/2337.htm
12.http://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria-vs-septuaginta-transliterada/
sao-marcos/16/
13.
Pisteu (crer) + sufixo twn=sagrado. (http://biblehub.com/greek/4100.htm)
14.
Sacramento da confirmação do Batismo que se faz mediante aspersão do óleo.
(Livro Vol.IV)
15. HÁ UM
SÓ SENHOR, UMA SÓ FÉ, UM SÓ BATISMO. (Ef 4, 5) Um só
Batismo em sentido de Comunhão, e não apenas em número.
16.
CONCÍLIO DE TRENTO: “CÂN. XIII – Se alguém disser que as
criancinhas, depois de recebido o Batismo não devem ser contadas entre os
fiéis, pois não fazem ato de fé, e que por este motivo devem ser rebatizadas
quando cheguem à idade da razão, ou que é mais conveniente deixar de
batizá-las, que conferir-lhes o Batismo com apenas a fé da Igreja, sem que elas
creiam por ato próprio, seja excomungado. (ano 1545)”