
Brasil 247 – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou neste domingo (4) a imposição de uma tarifa de 100% sobre todos os filmes produzidos fora do país e importados para o mercado norte-americano. A medida, segundo ele, visa resgatar a indústria cinematográfica dos EUA, que estaria “morrendo muito rápido” diante da concorrência estrangeira. A notícia foi publicada pela agência Reuters, com reportagem de Andrea Shalal e Tim Reid.
“Este é um esforço conjunto de outras nações e, portanto, uma ameaça à Segurança Nacional. É, além de tudo, uma mensagem e propaganda”, escreveu Trump na rede social Truth Social, justificando a decisão com um argumento de cunho geopolítico. Em letras maiúsculas, o presidente ainda declarou: “QUEREMOS FILMES FEITOS NA AMÉRICA, NOVAMENTE!”.
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O secretário de Comércio, Howard Lutnick, nomeado recentemente por Trump, confirmou no X (antigo Twitter) que as instruções do presidente já estão em andamento: “Estamos cuidando disso”. Nenhum dos dois, no entanto, detalhou como a tarifa será aplicada — se incluirá filmes exibidos em serviços de streaming, se levará em conta os custos de produção ou se será baseada na receita de bilheteria.
A medida pegou de surpresa executivos dos grandes estúdios. A Motion Picture Association, que representa empresas como Disney, Netflix e Universal Pictures, ainda não se manifestou. Segundo a agência, representantes da indústria buscavam entender o impacto e o alcance da nova política tarifária.
A decisão de Trump ocorre num contexto de reestruturação global da indústria do entretenimento. Nos últimos anos, grandes produtoras vêm deslocando gravações para países como Canadá, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia, em busca de incentivos fiscais e menores custos de produção. Estimativas da consultoria Ampere Analysis indicam que o setor audiovisual deve movimentar cerca de US$ 248 bilhões em 2025, e diversos governos vêm disputando esses investimentos.
Em janeiro deste ano, Trump já havia sinalizado sua disposição de intervir diretamente no setor, ao nomear veteranos de Hollywood como Jon Voight, Sylvester Stallone e Mel Gibson para um comitê informal encarregado de revitalizar a indústria nacional e “tornar Hollywood maior, melhor e mais forte do que nunca”.
Em resposta ao anúncio tarifário, autoridades da Austrália e da Nova Zelândia — onde foram filmados sucessos como “Thor: Ragnarok” e a trilogia “O Senhor dos Anéis” — afirmaram que defenderão suas indústrias locais diante da ofensiva americana. Segundo a Reuters, representantes desses governos já iniciaram conversas com parceiros comerciais, incluindo a China.
A possível retaliação preocupa especialistas. “A retaliação acabará com a nossa indústria. Temos muito mais a perder do que a ganhar”, alertou William Reinsch, ex-funcionário do Departamento de Comércio e atual membro do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. Para ele, a tentativa de classificar a questão como um problema de segurança nacional é “difícil de sustentar”.
Dados recentes ajudam a contextualizar a decisão. Segundo a empresa ProdPro, cerca de 50% dos gastos de produtores americanos em projetos com orçamento acima de US$ 40 milhões ocorreram fora dos EUA em 2023. Na cidade de Los Angeles, berço de Hollywood, a produção de filmes e séries caiu cerca de 40% na última década, conforme levantamento da organização FilmLA.
Além da fuga de investimentos, a cidade também enfrentou desafios adicionais, como os incêndios florestais no início de 2025, que afetaram bairros onde vivem trabalhadores técnicos da indústria, como operadores de câmera, figurinistas e sonoplastas.
Em meio ao novo embate comercial, produtores e sindicatos da indústria pressionam o governador da Califórnia, Gavin Newsom, por um aumento nos incentivos estaduais, a fim de tornar o estado mais competitivo frente à concorrência internacional.
A nova tarifa anunciada por Trump insere-se num padrão mais amplo de medidas protecionistas que marcaram tanto seu primeiro mandato quanto sua atual gestão. Em ciclos anteriores, essas ações geraram instabilidade nos mercados globais e receios de recessão interna. Agora, ao mirar o setor do entretenimento, o presidente parece buscar mais do que uma disputa econômica: uma batalha simbólica por influência cultural no cenário internacional.