Por Mirella Lopes, do Saiba Mais – Em seu pronunciamento de despedida à frente da Petrobras nesta quarta (15), Jean Paul Prates ressaltou a mudança de perspectiva da estatal durante sua gestão, com um reposicionamento no mercado, em contraposição à política anterior de desvalorização, demonstrando sustentabilidade financeira, manutenção e ampliação do parque industrial de refino, como uma multinacional robusta e invejável.

“Essa é uma empresa que forma profissionais. Que nos dá energia de ambicionar grandes coisas a serviço do Brasil. Agradeço especialmente ao presidente Lula a oportunidade e responsabilidade de chefiar a empresa no começo desse nosso governo, de dar partida no processo de transição para uma empresa de energia preparada para o futuro”, começou Jean Paul em seu discurso de despendida à frente da estatal.

Numa mensagem direta aos petroleiros e petroleiras, além da diretoria da estatal, Prates agradeceu a dedicação e profissionalismo de cada funcionário. O ex-presidente da estatal lembrou que foi durante sua gestão que foi criada a Nova Diretoria de Transição Energética e Sustentabilidade, um reposicionamento que resultou em maior investimento do mercado, desempenho histórico das refinarias, ao mesmo tempo em que foi mantido e expendido o parque industrial de refino com foco em biocombustíveis.

“A jornada em busca de sustentabilidade é responsabilidade de todos nós. Tenho certeza que a Petrobras com sua expertise e paixão continuará a trilhar esse caminho com excelência”, citou Prates, que atua na Petrobras desde a década de 1980, quando trabalhou na BrasPetro.

Em abril passado, o Sindicato dos Petroleiros do Rio Grande do Norte (SINDIPETRO-RN) divulgou um manifesto em que apoia a permanência do atual presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, à frente da estatal. Na nota, o SINDIPETRO ressaltou o papel da Petrobras para o desenvolvimento nacional e regional e diz que a empresa viveu um período de enfraquecimento e ataques violentos, incluindo terceirização e privatização. Mas que, sob o advento do governo Lula e uma nova gestão à frente da estatal, “muitas dessas questões foram estancadas e outras estão sendo alvo de difíceis tratativas”, e que Prates tem contribuído para a solução dos problemas.

A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), de quem Jean Paul é parceiro no RN, disse que “todos sabem da sua contribuição para o avanço e reconstrução do Brasil”.

Relação com o RN

Apesar de carioca de nascimento, Jean Paul Prates tem uma longa relação com o RN. Antes de alcançar o cargo de presidente da Petrobras, do qual foi dispensado nesta terça (14), Jean Paul Prates elaborou, ainda em 2001, um planejamento energético para o Rio Grande do Norte com foco em energias renováveis, principalmente energia eólica. O projeto foi adotado a partir de 2003, ainda durante o governo da então governadora Wilma de Faria (2003-2010).

“O histórico de Jean Paul se confunde com o processo de desenvolvimento de segurança energética e sucesso do RN nesse setor. Quando Jean Paul veio para o estado, nós éramos dependentes da geração de energia que vinha de fora e produzíamos pouco, tínhamos apenas algumas termoelétricas. Ao chegar, ele assumiu a Secretaria de Energia, criada por Wilma, e desenvolveu esboços da nossa política para o setor. Foi o precursor do histórico que temos hoje de relevância para a política energética brasileira. Também atuou muito em petróleo e gás, trabalhou para trazer a Refinaria Clara Camarão e para a expansão dos campos de petróleo. Foi ele que organizou a primeira Carta dos Ventos, um dos instrumentos que viabilizaram o 1º leilão de eólica no Brasil, garantindo ao governo federal que haveria concorrência e competitividade nos leilões em 2008”, revela Hugo Fonseca, Secretário Adjunto de Desenvolvimento Econômico do RN e Gestor de Projetos Especiais para Setor Energético.

A Carta dos Ventos foi assinada no Rio Grande do Norte e o 1º leilão foi realizado em 2009. “Hoje o setor é tão competitivo que os leilões já não são mais necessários”, acrescenta Hugo.

Com o fim do governo Wilma e da Secretaria que ocupava, Jean Paul fundou o Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), uma think tank especializada em pensar estratégias para o setor e fomentar o mercado.

Em 2019 Prates se associou a Fátima Bezerra e assumiu o cargo se senador, quando ela se afasta do parlamento para se candidatar ao Governo do Estado.

“No Senado ele passou a desenvolver outros projetos sobre novas fontes energéticas, como o Marco Legal de Geração de Energia Offshore e que dá segurança a investidores para investir nesse tipo de fonte; o Marco Legal do Hidrogênio e o Mercado de Carbono”: projetos no senado, em fase de apreciação”, relata Hugo Fonseca, que está em Bruxelas numa missão do Governo do Estado para divulgar o potencial energético do RN e captar investimentos de empresas europeias para o setor.

“Tudo isso é muito importante para alcançarmos a reindustrialização. Tivemos perdas significativas nos últimos anos, é a nossa oportunidade para substituirmos as fontes fósseis por renováveis na fabricação de produtos”, destaca o Secretário Adjunto do RN.

Importância sentida, também, no futuro

Assim que assumiu a presidência da Petrobras, Prates decidiu manter a sede da estatal funcionando em Natal como forma de fortalecer o papel do Nordeste no processo de transição energética, com foco em projetos de energia eólica e solar.

A medida veio em 2023, após um processo de privatização de ativos e campos terrestres da Petrobras no RN durante o governo de Jair Bolsonaro, quando até a sede da companhia na capital potiguar havia sido colocada à venda.

A proposta de Jean Paul Prates era de transformar a sede da estatal em Natal em um hub de projetos de energia eólica, transformando as instalações em um dos principais centros de estudo e desenvolvimento de tecnologias voltadas para a instalação de parques eólicos offshore (alto mar) do país.

Memorando

Em abril deste ano, o Governo do Estado assinou um memorando de entendimento com a Petrobras para instalação, no litoral norte, do primeiro projeto piloto para a instalação da primeira usina de geração de energia no mar (offshore) do Brasil.

“Ele continuará contribuindo nos próximos anos, a importância transcende a atual gestão na Petrobras, influenciando nos próximos cinco a 10 anos para o Brasil ter segurança energética e financiar a transição energética ao longo das próximas décadas”, avalia Hugo Fonseca.

Margem Equatorial

É uma área que começa no Amapá e vai até o litoral do Rio Grande do Norte, passando pelas bacias: Potiguar, Ceará, Barreirinhas, Pará-Maranhão e Foz do Amazonas. Quando ainda estava à frente da Petrobras, Jean Paul Prates anunciou que a estatal investiria cerca de US$ 3,1 bilhões em atividades exploratórias na região, por meio do Plano Estratégico 2024-2028.

A área a ser explorada em território potiguar foi identificada no poço exploratório de Pitu Oeste e no poço Anhangá, já perto da divisa com o Ceará.

“Foi Jean Paul que também iniciou a atividade exploratória na margem equatorial, um projeto que estava em desenvolvimento desde 2006 e ficou abandonado desde 2016. Ele retomou, viu que países e suas multinacionais começaram a investir na área, mas para o lado da Guiana. Ele então resgatou e iniciou a exploração da margem brasileira. A sonda chegou ao RN no começo de fevereiro e durante a perfuração em março foram encontrados dois poços com hidrocarboneto, usados na produção de petróleo e gás”, detalha o Secretário Adjunto de Desenvolvimento Econômico do RN.

“É uma área importante porque o petróleo do pré-sal é finito. Temos no máximo uma ou duas décadas e a Petrobras precisa de novas reservas para dar segurança e estabilidade ao país e não ficar à mercê da volatilidade do mercado enquanto é realizado o processo de transição energética”, pondera Hugo Fonseca.

Porto-Indústria Verde

O governo federal incluiu a construção do Porto-Indústria Verde, no município de Caiçara do Norte, litoral norte do RN, no Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-3) através de uma PPP (de Parceria Público-Privada) a um custo de R$ 5,7 bilhões.

A meta é que a estrutura entre em funcionamento no último trimestre de 2026. O Porto é importante no processo de transição energética porque além de escoar produtos já presentes na economia potiguar, como como sal, frutas e ferro, o local também servirá de base para a produção, armazenamento e distribuição de novos produtos, como hidrogênio verde, amônia verde e aço verde.

“A Petrobras tem ativos onshore (em terra) que estão sob tutela da estatal e que não foram repassadas a outras empresas no processo de venda e privatizações, temos duas plataformas habitáveis – sendo uma 1 com pedido para descomissionamento [desmontagem, que é obrigatória que é obrigatória e está na licença emitida pelo Ibama] e cerca de 17 autônomas, além de rede de tubulação que se conecta com a refinaria. Retirar esse material é até mais caro do que instalar, com o Porto-Indústria Verde será possível reciclar e retirar todo esse material do esse descomissionamento na costa do próprio Rio Grande do Norte, reduzindo os gastos, senão esse ativos vinculados à atividade de petróleo e gás, inclusive de outras empresas como a 3R Petroleum, teriam que ser enviadas a Santos, para serem desmontadas lá”, explica Hugo Fonseca.

“O pioneirismo dele está em pensar à frente e preparar o estado e o Brasil com grandes contribuições. Jean Paul é muito conhecido e respeitado não apenas pelo caráter de pessoa idônea que ele tem, mas pelo conhecimento e ações ao longo da carreira que demonstram capacidade de realização de seus projetos, que se demonstraram viáveis e uma contribuição significativa para o país”, conclui.

Repercussão

No Rio Grande do Norte, de maneira geral, os políticos que fazem parte do Partido dos Trabalhadores (PT) agradeceram e parabenizaram Jean Paul Prates pela atuação à frente da Petrobras.

A Federação Única dos Petroleiros (FUP), por meio de nota, afirmou respeitar a decisão do presidente Lula e também saudou Jean Paul pelo período à frente da estatal.

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