Autor: Santo Tito, é funcionário aposentado do Banco do Brasil

Ele morava em São Gabriel da Cachoeira. Alto Amazonas. Era um negro alto (1,88m), cabelo “black power”, bigode, costeleta. Diferente dos padrões da região. Mais parecia um daqueles jogadores de basquete dos Estados Unidos.

Naquele dia, já de cabelos brancos, lá estava ele, alegre e feliz, totalmente entregue aos finalmentes para receber uma turma que há mais de quinze anos comemorava consigo mesmo o evento mais importante da sua vida. O dia do seu nascimento.

Mas algo de surreal estava para acontecer. Ele jamais poderia acreditar que, com toda a sua experiência e imaginação para previsão de futuro, pudesse estar prestes a presenciar um acontecimento totalmente inusitado.

Em um dado instante a campainha da sua casa toca. Alguém atende. Ele, naturalmente, não presenciou o ato. Mas se tratava de um mensageiro para entrega de um pacote. Mais tarde, no tempo do relaxamento, perguntou quem tinha estado lá e o que queria, ao que lhe responderam se tratar de uma encomenda a ele endereçada. Como o cara era um desses sujeitos bruto, não muito afeito a presentes, pois entendia que eles não respondiam aos seus interesses pessoais, preocupou-se apenas em saber quem estava por trás de tudo aquilo.

Surpresa!!!
Pois, há exatos quarenta anos, ele havia pedido a uma pessoa da sua confiança que entregasse um presente para uma determinada personalidade da sociedade local. Isso, por motivos óbvios que aqui não deva ser declinado, ficou impregnado na sua (dela) lembrança.

Não é que nessa noite, para ele tão especial, ela, a DITA personalidade, entendeu que era chegada a hora de retribuir a oferenda. Numa bem surtida e muito bem ornamentada cesta de presentes continha algo a mais que, internamente, o fez chorar. Agora imaginem um quadro com esse ilegítimo representante de ébano, com os seus 1,85m de altura, com as demais características já mencionadas, aos prantos no canto de uma sala escura. Acredita-se deva ser uma visão muito horripilante. Mas vejam se não era para tanto! Ele, normalmente, esquecia das boas ações que praticava. Porem ela não esqueceu daquele surpreendente momento que, até então, transformara aquela ocasião como se fosse uma licença poética encaminhada a DITA cuja com exclusividade única.

Com a mesma alegria de outrora, esperou esse tempo todo (exatos quarenta anos) especialmente para dizer na nota em que teve a gentileza de escrever com as próprias mãos, afora outros depoimentos extraordinários: “…E antes que a minha memória falhe, queria deixar registrado a alegria que você proporcionou a uma adolescente que é “ainda” muito tímida e jamais teria coragem de se expressar pessoalmente. …”.

Tal redação ele fez questão de mostrar às pessoas do seu círculo, em especial àquelas em que a carga emocional era maior, dizendo: “Quando fizeres algo com uma mão, nunca tente, por qualquer que seja a razão, desmanchar com a outra. E essa é a prova integral do maior de todos os presentes dentre todos os aniversários da minha vida. Bem-aventurados aqueles que têm a graça de, como eu, aqui na terra, serem contemplados com teor de uma declaração eivada de tanta honestidade, simplicidade e singeleza. Que a paz dos céus seja o manto, o “sobretudo” dela e lhe cubra de bênçãos para todo o sempre”.

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