
Na semana passada, analisei “Cavalgada”, de Roberto Carlos, uma das mais belas músicas sobre sexo.
Hoje analiso uma das mais belas “roedeiras” da música brasileira, “Eu te amo”, de Chico Buarque.
A música é o lamento de um homem intensamente apaixonado por uma mulher que o deixou.
Ele diz que, pela paixão, ambos perdiam a noção do tempo e, juntos, já haviam “jogado tudo fora”.
Foi em razão daquela mulher que ele “deu para sonhar”, rompeu com o mundo e queimou seus navios, sem se preocupar com o que aconteceria caso o relacionamento acabasse.
“Se entornaste a nossa sorte pelo chão // Se na bagunça do teu coração // Meu sangue errou de veia e se perdeu”, afirma o homem, demonstrando o poder que ela tinha sobre ele, poder que permanece após o término, representado pelo paletó dele que, no guarda-roupas, ainda enlaça o vestido dela.
Sem compreender como uma paixão tão intensa poderia ter acabado, ele questiona a mulher: “Como, se nos amamos feito dois pagãos // Teus seios ‘inda estão nas minhas mãos // Me explica com que cara eu vou sair”.
O homem entregou àquela mulher sua própria alma, representada pelos olhos que deu para que ela “tomasse conta”.
Sem ela, ele não consegue ver o mundo e não tem para onde ir.
Isso porque, sem ela, todos os lugares agora não passam de “lugar nenhum”.
Essa, sim, é uma “roedeira” de qualidade.