Santo Tito, funcionário aposentado do Banco do Brasil

O antropólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Damata, disse à Agência Brasil que o costume de homens se fantasiarem de mulher sempre existiu. “É permanente em todos os carnavais. E digo mais, até em carnavais da Rússia de Catarina II, em 1700”.

Para Damata, como para os demais antropólogos, o ritual carnavalesco ocorre na maioria das sociedades do mundo, “senão em todas”. Trata-se do ritual da inversão. É o ritual da licença, onde os opostos da sociedade rotineiros se invertem. As mulheres podem se comportar como homens, caso dos destaques das escolas de samba. São as supermulheres que os homens tem medo de chegar perto. Elas são castradoras de tão bonitas e agressivamente eróticas.

No ano de l997, oriundo de um pequeno grupo de jovens, nas dependência da casa de “Téssia, durante aquelas rodinhas com bebidas alcoólicas, nasceu aqui na cidade de São Paulo do Potengi/RN, o bloco carnavalesco os Manicacas, onde os integrantes eram homens na faixa dos seus 17/20 anos tal qual o Afoxé Filhos de Gandhi (uma manifestação afro-brasileira com raízes no povo iorubá criada no ano de 1949 em Salvador/BA, onde os componentes são compostos só por homens).

Após uns dois ou três anos de existência, por não terem mais com arcar com as despesas de uma quarta fantasia, eles foram (conforme relato do professor Jobson) impelidos para o uso de vestes femininas. Criando-se assim um incipiente Desfile das Quengas. Hoje, com o carnaval sendo transferido dos salões para as ruas da cidade, transformou-se num dos maiores grupamentos de homens travestidos de mulheres ( e vice-versa) que integram o carnaval do RN.

No início dos anos 2000/2001, dado o seu dimensionamento, depois de desfilarem num carroção puxado por um trator de Apriginho, , o domínio acabou ficando proibitivo aos inventores originais. Assim, a realidade da situação os encaminhou até a prefeitura municipal em busca de amparo financeiro. Na época, por incrível que pareça, as grandes incentivadoras Téssia (irmã de Dr. Tarcísio) e Daiana (filha de Nuca de Pedro Ferreira) eram os gurus daquela homarada toda.

Com o olhar futurista, o auxílio veio através de José Cassimiro de Araújo (Naldinho), à época respondendo pelo executivo municipal. Tanto que, pela expansão das adesões, sua administração fugiu ao controle dos seus artifíces, sendo necessária a manutenção desse auxílio até total absorção do desfile pela administração pública, motivo de um frugal desentendimento entre as partes. Mesmo com tais motivos nada relevantes, à parte, o fato é que quis o destino que esse caminho fosse traçado de forma como foi, para que aquela singela ideia dos adolescentes, inteligentemente capturada, se traduzisse no maior evento carnavalesco de São Paulo do Potengi.

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