Carnaval de SPP: 19 horas. Será que valeu a antecipação?

Por Santo Tito

Como algumas pessoas não entenderam bem a ideia que levou os organizadores do maior carnaval da Ribeira do Potengi a anteciparem o horário de início da festa mais popular do Brasil para as dezenove horas, vamos tecer alguns comentários sobre essa iniciativa de nossos próceres. Cremos que dentre eles, os idealizadores da ideia, existam quem desconheça a tradição local acerca de horário.

De antemão, podemos nos deter no Sincretismo cultural, um termo utilizado para explicar as sociedades que foram criadas na América Latina, nascidas da união de culturas ameríndias, europeias e africanas, e que desempenham um papel importante na formação de identidades culturais e religiosas, podendo se transformar em uma configuração de resistência às inovações.

Essa mesma tradição carrega o peso da história, das pessoas e de suas crenças. Alterar algo tão profundamente enraizado pode ser delicado, mas também pode trazer inovação e frescor, se feito com respeito e empatia. E aqui podemos citar dois casos emblemáticos: o próprio carnaval potengiense e a feira livre.

Considerando as pessoas que têm um QI (quociente intelectual) superior ao da média nacional, e que merecem o devido respeito, a empatia dos nossos foliões com o horário a que ficaram expostos e o histórico dos grupos que, tradicionalmente, fazem o carnaval de nossa cidade não foi devidamente analisado.

No sábado as pessoas ainda estavam chegando. Algumas lojas de vestuário não haviam fechado, aproveitando para faturarem em cima de alguns foliões retardatários. No domingo, quando se pensava que era o momento dedicado às crianças, o matiné infantil, já era o primeiro grupo musical dando início à folia. Para ninguém. Recursos jogados fora.

Não vamos nos ater à segunda-feira, tradicional Desfile das Quengas. Mas na terça-feira o Mela-Mela estava acontecendo na Barragem Campo Grande e a tradicional festa do Rolentrando, que acontece em frente à casa de Zé Miguel, estava em efervescência. Mesmo que não tenham adentrado no horário pré-estabelecido, depois de todo o exercício físico dedicado às atividades momescas, as pessoas precisam de mudar as suas indumentárias, fazer a sua higiene pessoal e prover o organismo com alguma alimentação.
E a missa?!… E o culto?!… Também existem durante o carnaval.

Nenhum grupo musical gosta e nem vai aceitar tocar como se estivessem num ensaio. Pode até ser um impeditivo para futuras contratações/apresentações. A falta do incentivo principal, o oxigênio do interprete, o público, torna proibitivo.

Em Caicó, Currais Novos, Santa Cruz, e em outros municípios onde acontece a tradicional Festa do Reencontro, a imposição do traje a rigor é obedecida religiosamente. Situação impraticável em São Paulo do Potengi.