Sermão proferido por Dom Nivaldo Monte, na missa campal de corpo presente, celebrada na tarde do dia 17 de janeiro de 2.000, antes do sepultamento de Monsenhor Expedito Sobral de Medeiros, na Matriz de São Paulo, em nossa cidade.
“Olhem, a presença só é real e verdadeira quando nós temos necessidade dela, pois é o amor de uma ausência física que nos faz almas necessitadas.Não é a presença de um corpo físico que marca o sinete do amor, da perpetuidade de amor, não. É a alma, é o espirito, o exemplo, é uma vida, porque só a morte perpetua um ser, porque somente ela fixa os valores essenciais da vida.
Antes poderíamos dizer: tínhamos um santo, mais poderia não ser santo. Tínhamos um homem bom, mas ele poderia não ser bom mais tarde. Agora não, fixado pela morte, a sua virtude, o seu exemplo, podemos dizer de que de agora por diante não há mais perigo de olharmos para ele e dizermos “eis um santo”, pois não pode deixar de ser um santo. Porque tudo o que é feito com amor, meus irmãos e minhas irmãs, tem ressonâncias eternas, universais. Ele amou. Como Jesus, tudo fez por amor e caridade.
Mas é preciso também não esquecer que a terra fecunda, onde ele semeou sua bondade e o seu amor, também tem neste momento uma hora de grandeza, porque realmente para que ele pudesse ser o padre que foi, ele precisou ser alimentado pelo coração de vocês. E é certo que nessa hora vocês soubessem ser fiéis a ele. Monsenhor Expedito foi realmente feliz, porque não somente amou verdadeiramente o seu rebanho, mas realmente foi amado por seu povo.
Este dualismo é que faz o homem se realizar.amar e ser amado, por isso nesta hora em que fisicamente nós vamos sepultar o corpo deste nosso irmão, é com festa. Alguém que vai, somos nós povo de São Paulo e seus amigos que vamos oferecer esta semente fecunda, nesta tão bonita tarde de inverno. Na viagem pra cá eu me perguntava: Nós vamos sepultar um corpo morto ou semear uma semente viva?
Creio, por conseguinte, que nesta tarde nós só temos motivos para agradecer profundamente a Deus, por todos esses anos que tivemos a felicidade de conviver com este homem, alma mística que soube realmente amar o seu Deus, a sua Igreja e a sua comunidade. Por isso nosso coração se volta para Deus, neste agradecimento.
Por outro lado, sabemos também que não temos nenhuma razão para desanimarmos, porque mesmo que o mundo tenha tanta maldade, tanta falta de solidariedade, tanta falta de amor, eu digo: um só ato de amor nesta terra seria razão suficientemente certa para Deus ter criado o homem, ter criado o homem para que pudesse viver.
Uma terra, por conseguinte, um mundo que foi capaz de produzir um homem como este, não é uma terra morta, não é uma terra que terminou o seu combate. É uma terra fecunda, cujos horizontes se alargam em frente as nossas vidas, sabendo que amanhã será um dia melhor. Vamos arregaçar as mangas, como Deus mesmo estendeu seu braço para lutar pelo seu povo de Israel na planície dos amalecitas. Assim também, agora nós precisamos para sermos fiéis a Deus e a Monsenhor Expedito, trabalhar, estudar, desenvolver, termos coragem. Não podemos terminar o combate antes do tempo.
Digo que um coração saciado é um coração morto. Um homem realizado é um homem morto. Precisamos dilatar os limites de nossos corações e para que possamos fixar a presença desse nosso irmão queridíssimo, que no Céu está a nos abençoar, precisamos fixar na terra, um marco que realmente fale deste homem a todas as pessoas que por aqui estiverem passando, visitando esta cidade de São Paulo do Potengi.
Que esta praça, cujo nome é Praça da Matriz, possa por meio de uma Lei Municipal se transformar em Praça Monsenhor Expedito. Assim meus irmãos e irmãs, nós poderemos continuar esta obra de amor, que foi realmente a vida deste homem, para que cada um de nós, partindo, levemos no coração a semente da esperança. Quem Deus nosso Senhor nos abençoe. Amém”.
Dom Nivaldo Monte (in memorian) foi Arcebispo de Natal