Por José Ibiapina


Entre a paixão e morte, na Sexta-Feira Santa, e a Ressurreição de Cristo, no Domingo de Páscoa, a Igreja vivencia o “grande silêncio”, ocasionado pela ausência do rei, que está morto. [1] 

Durante este intervalo de tempo, duas realidades se oferecem à nossa meditação. A primeira é a descida de Jesus Cristo à mansão dos mortos, à cisterna sem água (Zc 9,11), onde os justos da antiga aliança o esperavam, para serem aspergidos com Seu sangue e, finalmente, libertados; a segunda é a fé inquebrantável da Virgem Maria, a única que verdadeiramente creu na Ressurreição do Seu Filho, quando todos os outros ou fugiram, ou necessitaram de comprovação para verdadeiramente crer[2]. Este artigo será focado neste segundo aspecto.

Nosso Senhor Jesus Cristo, em diversas passagens dos evangelhos, disse que, para cumprir sua missão, haveria de morrer e ressuscitar ao terceiro dia. Apesar de Ele ter deixado isto claro, os apóstolos, no momento fatídico, não acreditaram. Já na Sexta-Feira Santa, antes da morte do Messias, Judas o traiu, São Pedro o negou e, dos outros dez, nove fugiram, tendo permanecido aos pés da cruz somente São João, o amado.

Durante o martírio do salvador, permaneciam com fé robusta, além de São João, as mulheres que estavam com o Cristo Crucificado: Maria mão de Jesus, Maria Madalena, Maria de Cleófas e Salomé (Jo 19:26-2, Mt 27:56 e Mc 15:40). Contudo, esta robustez não durou até o Domingo de Páscoa.

Relata-nos São Marcos (Mc 16, 1-3) que Maria Madalena, Maria de Cleófas e Salomé compraram perfumes para ungir o corpo de Jesus, e se perguntavam quem retiraria a pedra do sepulcro para que pudessem perfumá-lo. Ora, se pretendiam perfumar o cadáver de Cristo, não criam efetivamente na sua ressurreição.

São João, por sua vez, em seu próprio relato do evangelho (Jo 20, 1-8), afirma que, no domingo bem cedo, Madalena e Maria de Cleófas se dirigiram ao túmulo e, ao perceberem que estava vazio, voltaram para contar o ocorrido a São Pedro e a ele. Ao ouvirem o testemunho, os dois apóstolos correram em direção ao túmulo, a fim de “ver com os próprios olhos”. Ao chegarem lá, São João afirma que entrou no túmulo, viu e creu (Jo 20, 8). Ora, se creu quando viu, é porque não cria antes de ver. [3]

Diante disto, daquelas pessoas que ficaram com Cristo até o fim do martírio (os outros já o tinham abandonado antes), apenas uma não esteve presente em nenhuma das descrições bíblicas referentes à ida ao túmulo vazio ( Cf. Lc 24; Mt 28; Jo 20; Mc 16): Maria, mãe de Jesus.

Assim, com base nestes relatos, apenas Nossa Senhora não duvidou, em momento algum, que o Filho de Deus haveria de vencer a morte e ressuscitar; apenas ela não precisou ir ao túmulo para ter certeza; apenas ela creu verdadeiramente, sem a necessidade de ver.

Por esta fé inquebrantável, que persistiu ao silêncio e à agonia da ausência do filho amado, o magistério católico ensina que, no sábado santo, a Igreja de Cristo na Terra se restringiu a Maria. E é nesta fé que nos agarramos neste momento de silêncio, à espera da Páscoa daq’Ele que venceu a morte.

[1] https://padrepauloricardo.org/blog/um-grande-silencio-reina-sobre-a-terra

[2] https://padrepauloricardo.org/episodios/sabado-santo-entre-a-morte-e-a-ressurreicao?utm_content=buffer86c37&utm_medium=social&utm_source=facebook.com&utm_campaign=buffer

[3] https://www.youtube.com/watch?v=zWkc3uXbkss

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