Por Santo Tito, funcionário aposentado do Banco do Brasil
Assim como acontece no Congresso Nacional, nas Forças Armadas, no Vaticano, na Petrobras, e em varias outras instituições de grande porte, lá no céu, não raro, também acontece desentendimentos e/ou procedimentos fora do Regimento Interno, ou das regras/normas comportamentais, que não chegam aos nossos sentidos naturais, apenas ao sexto sentido de alguns apaniguados.
Egresso aqui de São Paulo do Potengi e autodenominando-se como protetor dos pobres, da mesma forma como os Juizes de Direito têm supremacia sobre suas Comarcas, Monsenhor Expedito, quando chegou lá no andar de cima, impôs uma regra na qual todas as questões que tivessem relação com o seu território seriam por ele dirimidas.
São Pedro não viu com bons olhos essa determinação vinda de um novato, sendo ele o responsável por todas as aguas do planeta, a menina dos olhos da diretoria. De pronto não se pronunciou. Esperou pelo momento mais adequado para demonstrar o seu descontentamento, a sua insatisfação.
No dia vinte e dois de junho era o Arraiá do Alagadiço. Bem ao feitio do Padre não era um bairro daqueles que acolhe as famílias mais abastadas, mas sim composto de honestos trabalhadores que queriam apenas participar das festas juninas homenageando São João na sua data. No entanto, acabou transformando-se no palco de uma das maiores contendas que se tem noticias lá no céu.
Monsenhor ficou sabendo que naquela data estava previsto na planilha de São Pedro esvaziar as suas reservas de água. Cheiro de arenga no ar. Mas, no intuito de defender o seu feudo, dignou-se a conversar com quem de direito a fim de salvaguardar o investimento daquela comunidade. Foi até o apartamento de São Pedro, que era contíguo ao seu, e tentou negociar por algumas horas uma forma de postergar aquela ação. São Pedro, que estava injuriado com as normas de Monsenhor, virou-lhe as costas e foi direto abrir as torneiras.
O nosso defensor era mais fraco, mas encontrou forças e foi atrás para impedi-lo. Isso com a festa já em curso e os bolos, tortas, salgados, bebidas, pamonhas, canjicas, nada tinha sido vendido ainda.
Começou a discussão com São Pedro agarrado à torneira. Na medida em que abria o nosso protetor fechava.
Aqui na Terra, Silvério do Blog, muito arguto e conhecedor da obra e da tenacidade de Monsenhor, percebendo um movimento anormal na geografia do tempo, sentenciou: “Não se preocupem, podem continuar com a festa. Os dois, Monsenhor Expedito e São Pedro, estão atracados lá em cima, e Monsenhor só vai tirar a mão daquela torneira quando vocês venderem as suas comidas.”
E assim aconteceu. Pelo menos quando fui comprar torta de frango já não tinha mais.