Por @silverioalvesfilho

A medicina é um trabalho sagrado.

Nas mãos do médico, decisões que podem determinar se o paciente terá ou não bem estar; se terá ou não um trabalho; se terá vida, ou se terá a morte.

Grande poder e grande responsabilidade, refletidos no alto grau de estudo que se precisa ter para o exercício da profissão.

Mas, em razão do exercício de alto grau de poder, além do conhecimento técnico, o médico precisa ter também comprometimento moral com a função.

De fato, um médico não trata doenças, trata pessoas doentes. E isso tem uma grande diferença.

Doenças não têm famílias, angústias, aspirações. Doenças não sofrem, pessoas, sim!

Por isso, o exercício da medicina demanda empatia e respeito pelo paciente, sobre o qual médico exerce o poder do conhecimento, o poder da vida e, as vezes, da morte.

O comprometimento moral deve ser ainda mais forte quando a medicina é exercida no SUS, ante a vulnerabilidade econômica dos usuários.

Pacientes do SUS, regra geral, não têm escolha: o único médico ao qual podem ir é o da UBS ou do hospital público.

O pobre, muitas vezes sem estudo formal, caso seja tratado mal por um médico da saúde pública, recorrerá a quem?

Como poderá contestar humilhação sofrida, diante de uma pessoa que tem consigo o poder do conhecimento, da vida e da morte?

A reflexão me foi motivada por um conto que escutei nas ruas de São Paulo do Potengi.

O conto falava sobre um médico fictício do SUS, que humilhava pacientes, enfermeiras e técnicas de enfermagem.

Quanto mais vulnerável a pessoa que a ele procurava, mais ele se enchia de “poder” e “arrogância”.

O médico vivia numa realidade paralela, em que além de médico era um rei absolutista da idade média, cuja ignorância e antiética deveriam ser tratadas como conhecimento e virtude.

Porém, em dado momento, perdido na realidade paralela, o médico esqueceu de ser médico.

Os pacientes já não o suportavam. Sofriam de dor em casa, para não ter que vê-lo.

Os profissionais que com ele trabalhavam, torciam para que ele não viesse trabalhar.

O final do conto é triste: o médico persistiu brincando de rei, enquanto os pacientes não podiam brincar de saudáveis.

Mas um conto desses merece um final diferente. Alguém deve escrevê-lo.

O que será preciso para que quem tem capacidade de mudar o final da história o mude?

Só o tempo dirá.

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