Por @silverioalvesfilho
Segundo a cosmovisão cristã, a graça é maior do que o pecado e do que a morte, os quais sucumbiram ao sacrifício de Jesus (Jo 3,17), pagamento da nossa “dívida de sangue” proveniente do descumprimento da Lei (Rm 4,25).
Ainda assim, comumente, somos mais lembrados pelo pecado barulhento, do que pela vivência silenciosa da graça. “Faz mais barulho uma árvore que cai do que uma floresta que cresce”, dizem os antigos.
Exemplo disso é o caso de São Tomé, o apóstolo lembrado pela sua incredulidade.
No Evangelho segundo João, capítulo 20, versículo 25, os discípulos informam a Tomé que Jesus havia ressuscitado. O apóstolo, porém, declarou que só iria crer se tocasse nas chagas de Cristo.
A passagem ecoou pelos séculos, sendo imortalizada na literatura e nas artes, a exemplo do quadro de Caravaggio, intitulado “A Incredulidade de São Tomé”, que retrata a cena de Jo 20,27 (imagem a seguir).
Contudo, embora bem menos lembrado, o trecho mais importante de São Tomé está no versículo a seguir, o 28.
De fato, na era que veio após a morte do último apóstolo, João, os cristãos primitivos travaram diversas discussões sobre a natureza de Cristo: se seria Deus, semi-deus, parcialmente Deus, um anjo ou apenas um homem.
Para os bispos da época e de hoje, prevaleceu o entendimento de que Jesus é, a um só tempo, perfeitamente homem e perfeitamente Deus, o que posteriormente se chamou de “união hipostática”.
O interessante é que um dos poucos trechos da Bília que expressamente se refere a Jesus como Deus foi proferido justamente por São Tomé.
De fato, após tocar as chagas, o apóstolo exclama em direção a Cristo, desta vez sem dúvida alguma: “Meu Senhor, e meu DEUS!” (Jo 20,28).
De apóstolo incrédulo, Tomé tornou-se, pela Graça, santo e testemunha histórica da Divindade de Jesus.
Realmente, o pecado pode fazer barulho, mas, no fim de tudo, a Graça será sempre maior.
São Tomé, testemunha de Cristo, rogai pelo nosso Potengi.
Imagem: Em frente ao letreiro da entrada de São Tomé/RN.