Nosso Senhor Jesus Cristo, ao explicar a dureza do coração dos fariseus e declarar a revogação da antiga lei do divórcio, apresentou uma mensagem que, segundo Ele próprio, não poderia ser recebida por todos, mas apenas por aqueles a quem foi concedido. Disse o Cristo: “Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o.” (Mt 19:12). Nessa passagem, Jesus apresenta um contraponto ao egoísmo dos fariseus por meio da exaltação ao celibato, posteriormente exaltado também por São Paulo, em I Coríntios 7, e por São João, em Apocalipse 14:4.

Em 19 de novembro de 1939, na Catedral de Nossa Senhora da Apresentação, em Natal, o jovem Expedito Sobral de Medeiros escolheu fazer parte destes que optam por viver o celibato por amor ao Reino Celeste: tornou-se padre, escolhendo morrer para o mundo e vestir o preto da batina, sinal de que já não vivia para si, mas para Deus e para os outros.

Morto para o mundo, mas não alheio a ele, veio a São Paulo do Potengi com a intenção de reconciliar os homens entre si e com Deus, tarefa que cumpriu bem, mas sem deixar de apresentar posicionamentos firmes, quando necessário. Nessa tarefa, embora não fizesse distinção de pessoas, nutria uma opção preferencial pelos pobres, pois sabia que, como padre, não podia rejeitar a súplica de um pobre, nem desviar dos indigentes seu olhar (Eclo 4,4), muito menos despedir-se de um necessitado, sem buscar sanar suas necessidades materiais (Tg 2:14-18).

Falando a língua do povo, conforme lembrado pelo seu compadre Zé Preto, deu testemunho de que a luta social da Igreja faz parte da própria concepção cristã de vida (Mater et Magistra, § 221). Foi assim que, quando entre nós, pregou o Evangelho por palavras e atos, demonstrando, para leigos e instruídos, a necessidade de cultivar a fé, a esperança e o amor. Amor este que deu a ele a compreensão de que o sofrimento pelo Reino de Deus não era para si um fardo, mas uma alegria, conforme já havia constatado o Apóstolo Paulo (Cl 1,24).

Os frutos do seu trabalho social são inegáveis: a criação do Centro Social, das escolas radiofônicas, da maternidade Francisquinha Fonseca (atualmente hospital regional); fundação do sindicato rural; combate à fome, à sede e a desnutrição do nosso povo; luta pelas adutoras etc. A importância é tanta que não dá para falar da história de São Paulo do Potengi sem citar, em diversos momentos, a atuação do padre.

Em 16 de janeiro de 2000, findou sua estadia entre nós, após “pelejar” algum tempo com as fortes dores causadas pelo câncer, suportadas com amor e resignação. Crendo na vitória de Cristo sobre a morte (I Cor 55-58), o padre passou para a verdadeira vida maneiro, sem nenhuma preocupação material, deixando para aqueles que o conheciam a certeza de que sua existência terrena foi um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm 12,11), tendo lutado o bom combate, encerrado a carreira e guardado a fé.

Categorias