O Apóstolo Tiago ensina que a verdadeira religião é “visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo” (Tg 1,27). A primeira parte da afirmação apostólica enfatiza que a caridade é elemento essencial da religião deixada por Jesus. Nesse sentido, no capítulo 2 da sua carta, Tiago afirma que as obras de caridade, como vestir o nu e alimentar o faminto, exemplos por ele mesmo citados, são componentes imprescindíveis à fé cristã, sem os quais a fé é morta (Tg. 2, 14-17).
Com tais afirmações, o Apóstolo quer ensinar que a fé, assim como deixada por Jesus Cristo, não se vive por palavras, por afirmações vazias, nem mesmo pela mera compreensão racional do Sacrifício da Cruz. “Mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”, “crê até os demônios creem, e estremecem”, brada o Apóstolo. (Tiago 2:18-19)
Mas por que começar esse Editorial falando de Bíblia? O que tem a ver com o título? Tudo! Nunca se falou tanto de Deus, mas parece que nunca se viveu tão pouco a caridade. Nunca se falou tanto no nome do Senhor, mas também nunca se utilizou tanto o nome do Senhor para fins políticos. Nunca foi tão comum encontrar “correntes de fé” no whatsapp, mas também parece-me que nunca os que se dizem cristãos tiveram tanto medo de carregar a cruz do sacrifício, que nada mais é do que a cruz do amor que Jesus nos convidou a carregar (Mt 16, 24-25; Jo 15, 13).
Feita toda essa introdução, relato a tristeza que passei hoje ao ver a recepção dada por alguns conterrâneos potengienses à notícia de que nosso hospital receberia 06 (seis) leitos de UTI e dez leitos clínicos para o combate à Covid-19. Passei a refletir: como pode a terra de Monsenhor Expedito, que dedicou sua vida para tentar matar a fome e a sede das pessoas carentes, rejeitar os leitos que serviriam para atender a pacientes com risco de morte? Essas pessoas pararam para pensar que os pacientes no leito de UTI poderiam ser seus parentes? Ou ainda que não fossem parentes, pararam para pensar que se tratam de vidas humanas e que a função primordial de um hospital é justamente salvar vidas humanas?
Algumas dessas pessoas admiram quando é citado, num discurso político, a passagem Bíblica de Jo 8:32 (“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”), mas, tendo a oportunidade de colocar em prática a missão de sacrifício trazida pela Verdade Encarnada (Jesus), simplesmente a rejeitam.
Torço para que São Paulo do Potengi não venha a ter casos confirmados de Covid-19 e que nenhum leito de UTI do hospital regional venha a ser usado. Mas torço também que nossa comunidade, formada majoritariamente por católicos e evangélicos, caso seja preciso, não haja com egoísmo, mas, ao contrário, esteja disposta à caridade cristã, ciente de que poderemos ter aflições, mas que do nosso lado está aquEle que venceu o mundo (Jo 16,33).